Um lenço carrega em si muitos significados. À primeira vista, traz sua leveza e brilho aos nossos olhos. Seus desenhos, por vezes subestimados, possuem origens ancestrais e mensagens simbólicas. A palavra "lenço" deriva do latim "linteolum", que significa “pano feito de linho”, de "linum", “linho” ou o tecido feito dele.
O dicionário do Google se refere a ele como: “1. substantivo masculino, peça de tecido que serve, principalmente, para assoar o nariz: lenço de bolso. 2. Peça de tecido que serve para vários usos: lenço de cabeça.”
Minha lembrança mais marcante dessa peça do vestuário é ver minha mãe levando eu e meus irmãos à piscina do clube. Ela, com seu vestido azul anos 70, preso ao corpo por apenas um elástico no topo, acima dos seios, o que parecia mais um pano suspenso e solto, e aquele lenço azul-turquesa combinando perfeitamente com a cor dos seus olhos. O propósito do manto era cobrir seus cabelos loiros-oxigenados e alisados na força do ferro de passar roupa. Afinal, uma mulher “da sociedade” não poderia ter cabelos “eletrificados” e “verdes” de cloro; não seria “elegante”. Até dentro da piscina, ele estava presente; nem um fio de cabelo à mostra, por horas a fio.
A história do lenço colocado à cabeça traz em suas tramas uma extensa rede de memórias da relação do feminino com a teia social. Para as mulheres muçulmanas, o hijab simboliza a passagem para a vida adulta ou o orgulho de se identificarem como muçulmanas. Já as americanas, nos anos de guerra, usavam o lenço para prevenir que seus cabelos fossem arrancados pelas máquinas onde trabalhavam, o que culminou em transformar o adereço em um símbolo do movimento feminista.
A moda, enquanto um dos representantes do conceito que Norval Baitello Junior chama de Iconofagia, muitas vezes transforma toda a malha de significados em um produto, alterando sua simbologia e ritualidade. Assim, todas as referências que transformam, como proposto por Byung-Chul Han em seu livro "O Desaparecimento dos Rituais", o estar-no-mundo em um estar-em-casa, desaparecem imediatamente, e nosso mundo passa a ser um local “não confiável”, segundo sua teoria.
A partir daí, nos sentimos cada vez mais deslocados de nossa origem e, segundo Baitello, perdidos no aqui-agora do tempo presente.
Bibliografia
BAITELLO JR, N. A era da iconofagia: reflexões sobre a imagem, comunicação, mídia e cultura. São Paulo: Paulus, 2014.
HAN, Byung-Chul. O desaparecimento dos rituais: Uma topologia do presente. 1a
Ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2022.
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