2022
Na natureza
Na natureza, a mulher encontra a cura para sua busca fatigante nos braços de Gaia, a mãe original.
Ela é mais solo que mãe e muito vasta, muito distante para ter as características geralmente associadas a uma mãe humana.
Toda matéria viva nasce dela.
Seu seio generoso nos lembra da nossa fertilidade.
Ela nos reflete nossa própria natureza cíclica: o tempo para hibernar e o tempo de dar à luz. As primeiras flores da primavera, os gansos voando para o norte, os ventos soprando na relva alta e a desova do salmão nos lembram a renovação da vida. O solstício de inverno, por sua vez, nos dá permissão para descansar e reunir nossos sonhos.
Murdock, M. A jornada da heroína. Rio de Janeiro: Sextante, p. 161
A série "Na Natureza" surgiu de um coletivo feminino do qual eu fazia parte. O objetivo do grupo era discutir questões relacionadas ao feminino, incluindo a desconexão entre a perspectiva feminina e o ambiente de trabalho, onde predominam valores patriarcais. As características femininas, como criatividade, intuição e uma abordagem cíclica da vida, são desvalorizadas em um contexto que prioriza a eficiência e a produtividade contínua, sem espaço para o cuidado, a escuta e a reflexão.
Uma das minhas inspirações para criar as obras "Ao Redor", "Entre" e "Exalação" é a redescoberta do espaço feminino na sociedade. Antes do período patriarcal, as mulheres desempenhavam um papel central, conectadas à fertilidade, à terra e à lua, simbolizando os mistérios e ciclos naturais. No entanto, hoje em dia, esse aspecto feminino está obscurecido. As mulheres retratadas nas obras estão com os olhos fechados, como se estivessem se escondendo, o que reflete o momento em que vivemos em um universo predominantemente masculino, onde os ciclos e ritmos naturais são menosprezados.